Quando amamos alguém, não perdemos só a cabeça, perdemos também o nosso coração. Ele salta para fora do peito e depois, quando volta, já não é o mesmo, é outro, com cicatrizes novas. E outras vezes não volta. Fica do outro lado da vida, na vida de quem não quis ficar ao nosso lado.
É a última vez que choro por ti, pensei eu nessa tarde cheia de sol ..
Não foi assim, porque depois disso, quando deixei que voltasses a invadir o meu coração,
chorei não por ti, mas por mim e por ter sido tão estúpida.
Tu foste a minha última miragem,
o derradeiro de todos os cavaleiros andantes,
porventura o mais belo, construído pela minha paixão obstinada em perseguir um ideal,
e seguramente o mais fraco quando, por fim, te consegui ver sem ser em cima do cavalo.
Nunca sabes o que queres e vives tão perdido nas tuas dúvidas que nem sequer consegues perceber o mal que podes infligir aos outros. Faltam-te generosidade e empatia, bem como aquela qualidade tão rara quanto digna a que os ingleses chamam kindness. A tua natureza fugidia e arisca não é a tua primeira natureza, antes uma reacção à realidade que te confrontaste. Nunca te habituaste a dar.
Agora sou eu que não resisto a fechar-te a porta na cara, com toda a força que tenho e com toda a veemência que sinto. Quando batemos com a porta, também é para nós. Precisamos que se abata sobre a nossa consciência esse estrondo final, como qualquer coisa de grandioso que se quebra, um enorme edifício que implode. Lembro-me dessas semanas com dificuldade, apenas sei que chorava muito, porque acreditava que as minhas lágrimas acabariam por levar a tristeza, a desilusão e o desânimo e libertar-me de ti. Mas nem sempre é assim... A dor alimenta-se sobretudo de dor e dores da alma vivem de mãos dadas com o sofrimento treinado, não lhe podemos dar confiança
É fundamental bater com a porta, e com quanto mais força, melhor, principalmente se já levámos com ela na cara.
Aqueles que merecem as tuas lágrimas são os que nunca te fariam chorar. E foi assim que te fechei o meu coração hospedeiro, para sempre, acredito... Tu foste a minha grande aposta e a minha maior decepção..O amor é uma construção. Não sei se algum dia saberás o que é..."
O Dia em que te esqueci - Margarida Rebelo Pinto