precisava de te escrever...
de te dizer tantas coisas que depois se entalam na garganta.
eu esqueço que elas existem.
passo adiante. mas essas coisas, não sei como, mas encontram-me,
moem-me por dentro.
sufocam-me.
quero gritar.
a voz não sai.
tento esquecer
outra vez.
pisar essas coisas.
apagá-las.
adiá-las.
fazer qualquer coisa com elas.
menos dizer-te o que vai aqui dentro.
isso não. isso nunca.
E ando tão cansada de correr.
de me esconder.
dessas coisas.
que são os meus sonhos.
impossíveis.
e só meus.
Ficaram as saudades por matar e tanta coisa por te dizer ainda.
o tempo já não espera por nós.
Tenho o comboio para apanhar.
À minha espera tenho a estação.
Depois a casa vazia.
Depois de tudo.
Depois de ti.
Luto para que sejas tu.
Na maior parte dos dias,
fecho os olhos com muita força e tento esquecer esta luta.
Porque é uma luta inglória.
Não podes ser tu.
Sou tua.
Mas a alguém que me ofereça um sorriso,
deixo escapar um gosto de ti telenovelesco.
Se me abraçarem forte,
digo sim a um eventual compromisso de vestido e grinalda.
E sim, vendo-me por pouco.
Afinal tens tudo o resto.
E não podes ser tu.
Luto diariamente para que não o sejas.
Com uma vontade férrea.
Esmago desejos e beijos
. Engulo soluços e palavras.
Encolho-me neste lado do silêncio.
Quero que sejas feliz.
Quero ser feliz.
(ainda assim luto para que que sejas tu)
Há coisas que não gosto de falar.
Nem de partilhar.
Porque trazem á superfície da pele memórias estranhas
e confusas que preferia não reviver.
Mas hoje aconteceu.
é um bocado de adeus.
é um pedaço de outono que se desprendeu de mim.
é uma pequena despedida porque foi tudo tão pouco.
é a página em branco onde dantes abundavam palavras.
é a ausência distante da presença
,outrora constante.
é o ruído ensurdecedor do silêncio.
É o grito que se ignora.
é um bocado de adeus.
é uma dor agudinha.
é o peixe fora de água.
é o cigarro fumado sem perdão.
é o hábito. é a mania estúpida de se viver de sonhos. é
por isso um adeus.
breve como tudo o que restou de nós.
E faz um frio imenso, sabias?
Deveria amar todos os homen possiveis do planeta mas...
existes tu.
E isso muda tudo.
Mas não deveria.
estou cheia de palavras que nem sei o que querem dizer.
nem sei como as escrever.
sei que há alguma coisa em mim que precisa de sair.
adivinho que são palavras porque reconheço os sintomas.
mas pela primeira vez não sei qual é a doença e desconheço em absoluto se há cura.
revejo-me imensas vezes ao espelho.
afincadamente acreditem.
para tentar ver.
o mesmo que os outros veêm.
olho e não me vejo.
e nem sequer suspeito,
onde em mim,
os outros encontram tanta coisa.
"és muito especial, sabias?!"
Posso ser sincera?
Sabia.
Sei. Só não sei o que isso faz de mim.
E sei também que ninguém me dará essa resposta.
Porque também não é uma pergunta.
é só um vazio.
é só olhar-me e não me ver.
coisa pouca, portanto.
na estação anunciam o comboio.
não sei se me apetece apanhá-lo. não sei se me apetece o destino.